
A instalação Corpo Expandido, nos jardins do museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo, foi composta por 15 pares de pés de cimento branco, confeccionados a partir do molde dos pés de várias pessoas.


CORPO EXPANDIDO
Texto de Bibiana Teles Ferreira
O primeiro ponto de interesse do trabalho já se apresenta na contradição de que, justamente “os pés de Ingrid Noal”, não são necessariamente os seus próprios pés. Reproduções de pés de outros, as bases mecânicas e orgânicas que possibilitam o caminhar, repletos de identidade, de marcas, de linhas e cicatrizes, estes são os recortes de Ingrid, seus corpos amputados e apropriados.
Submetidos a um trajeto, a uma situação na paisagem, os pés tornam-se personagens em uma ação estática. O deslocamento da identidade de um indivíduo a partir de sua base física para um lugar escolhido pela artista: os pés pousam, dialogam, imprimem sua matéria. Meus pés na praia, seus pés no parque, os pés deste ou daquele em uma esquina qualquer de uma cidade qualquer.
O deslocamento físico transforma o mundo por onde pisa, imprime marcas no chão, na superfície sobre a qual exerce o contato. Por outro lado, aquele que pisa recebe igualmente as impressões do mundo, é afetado pela experiência tanto do caminhar, quanto do estar em algum lugar. Mas Ingrid transforma esta expansão do corpo alheio e do seu próprio corpo em uma via de ausência, de silêncio. Os pés que agem autônomos, independem de seus indivíduos.
A experiência do discurso narrativo no trabalho que Ingrid Noal apresenta na primeira exposição do grupo Tramas Urbanas- laboratório de escultura e poéticas do espaço no Museu Joaquim Felizardo é um convite à imaginação. O silêncio de pés pousados em algum lugar, ausentes de seus corpos por alguma razão. Contemplar o que não está, a forma fria que pisa autônoma com sua história particular, seus dedos, linhas e calos.



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